
"O que há de interessante em
ver um faminto devorando tudo o que vê na frente?"
Pleio-Zei não se apercebeu disso,
mas o ataque incondicional dos zilzitas contra os zirascênicos
resultaria em retaliação da parte dos Chefes Supremos.
Estes, por sua vez, usariam o ataque como argumento suficiente para
obter o consentimento e a aprovação de seu povo para
realizarem uma campanha em função do extermínio
total de Zilzal e seus habitantes violentos. Embora
o insignificante ataque de Pleio-Zei por algum instante realmente
ameaçou a segurança dos habitantes de Zirascenas,
os pretensiosos Chefes Supremos afirmavam (sarcasticamente) que
se outra "pilhagem" como aquela ocorresse novamente Zirascenas
seria dominada facilmente, sendo que o exército zilzita mal
havia conseguido arranhar as muralhas da cidade antes de já
estar completamente varrido do solo. Exceto Pleio-Zei, que fora
capturado e estava sendo mantido cativo pelos Chefes Supremos por
estranhas razões.
Mas o que teria acontecido a Pleio Moul Dan
quando fora deixado para morrer devorado por ferozes animais selvagens?
Pleio-Zei acreditava que a essa altura seu irmão não
passava de "um monte excremento deixado pelo animal que o devorou".
Embora tal fascínora estivesse convicto de sua afirmação,
sequer apercebia-se que ao mesmo tempo estava equivocado, pois algo
inesperado aconteceu e frustrou seus planos assassinos...
Pleio Moul Dan acabara de abrir os olhos
após longos dias de cama. A primeira coisa que avistou ao
acordar foi um rosto, e de uma bela mulher vestida de branco. Pleio
imaginou então que estava sendo recompensado por Zangar (ser
poderoso, obviamente um alienígena que havia visitado Panol
há muito tempo atrás e retornaria para arrebatar os
escolhidos para viverem com ele para sempre na beleza em Maars;
muitos nos dias atuais especulam que talvez Maars seja um planeta).
Mas logo se viu cercado de olhos indiscretos e preocupados. Com
muito esforço preguntou onde estava. Um senhor idoso, provavelmente
o avô da moça que Pleio avistou ao acordar, explicou
que quando sua neta o resgatou estava na boca de um crocodilo gigante.
E Pleio se surpreendeu quando ela disse que havia ordenado ao animal
que o soltasse.
Moul
Dan se surpreendeu ainda mais quando notou que não havia
cicatrizes dos ferimentos profundos que lhe foram infligidos pelos
golpes dos homens insensíveis que o pisoteavam sem dó,
na verdade era como se nunca existissem. Confuso, Pleio averiguou
como aqueles que o acolheram conseguiram fazer tal milagre. Todos
ali presentes estavam igualmente espantados, pois instantes atrés
Pleio estava com o corpo completamente desfigurado e coberto de
ferimentos. Sentindo um aroma irresistível de saborosos alimentos
que estavam sendo preparados não hesitou em saltar da cama
e correr em direção á comida, deveras estava
faminto. Ao tomar essa súbita atitude apavorou seus assustados
anfitriões. A princípio tomavam muita distância
dele, mas a curiosidade passou a superar o medo, e aos poucos tomavam
coragem e se aproximavam. Enquanto isso, Pleio se recostava á
mesa e se fartava dos pratos que lhe eram oferecidos com bastante
relutânicia. Não demorou muito para Pleio ser cercado
por olhos esbugalhados que o fitavam espantados. Quando se sentiu
incomodado, Pleio perguntou: "O que há de interessante
em ver um faminto devorando tudo o que vê na frente?"
Ninguém
respondeu ou trocou sequer uma palavara com ele. Todos estavam paralizados
por nunca avistarem um jovem que fosse sarado de seus males de forma
tão instantânea, uma restauração que
estava muito além das habilidades médicas que possuíam.
Perplexos, muitos começaram a evitar sua companhia, exceto
Verganna Lemóstides, neta do homem idoso, que intrigada a
respeito das origens do homem misterioso o interrogava diariamente
sobre de qual povo ele era e por que foi banido de maneira tão
cruel. A princípio Pleio relutava em responder por que repudiava
se auto-proclamar "níbio", povo onde "o sangue
derramado de inocentes era servido como prato principal nas refeições"
(uma expressão figurativa). Mas aos poucos foi-se revelando
e abalado contava entristecido os episódios que antecederam
seu injusto banimento por parte de seu irmão.
Enquanto
convivia entre aquelas simpáticas e amigáveis pessoas,
Pleio acabou descobrindo que eram trophanos e que o pai de Verganna,
Hamafade Lemóstides, era na verdade o Chefe do Exército
do rei Gonquer Zá-Sezano. Embora os trophanos travassem constantes
disputas territoriais com seu povo, Pleio os invejava. Ansiava poder
fazer parte dessa distinta nação e de alguma forma
ficar lado a lado com seu rei.
Graças
ao esforço de Verganna, seu "futuro pretendente"
quase já havia esquecido completamente de seu passado sombrio,
a não ser talvez por um nome que nunca lhe saía da
memória: Pleio-Zei. Portanto estava mais do que decidido
a retornar á Zilzal para obter vingança. Porém,
quando soube disso, Narterineu Lemóstides, avô de Verganna,
apressou-se em fazer os preparativos para a despedida de Pleio,
e após lhe dar uma espada e mantimentos para a viagem também
lhe forneceu uma guarda que o acompanharia para tornar bem-sucedida
sua missão e garantir seu retorno para os braços de
sua neta. Pleio mal fazia idéia de que toda aquela generosidade
na verdade estava por trás de um propósito.
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